FOFOCA

Em fofoca, não se deve acreditar, nem nas mais ingênuas. Jamais encorajá-las. Lembre-se de que o fofoqueiro é um pombo-correio que leva e traz. O que ele estiver fofocando sobre o Beltrano ausente, provavelmente fofocará a seu res-peito assim que você virar as costas. Corte habilmente o as-sunto ou retire-se sem muito alarde.

Lembre-se do nosso axioma no. 1: não acredite. Esse é o nosso primeiro dispositivo para neutralizar fofocas.

O dispositivo no. 2 é não passar adiante nenhuma observação que mencione o nome de alguém. Se o comentário tiver no-me, morre ali.

O dispositivo no. 3 é o acordo tácito entre nós de que quan-do alguém tiver algo a comentar, não mandará recado, mas sim falará diretamente com a pessoa interessada.

O dispositivo no. 4 é a confiança e a certeza de que nosso amigo ou companheiro está cumprindo o dispositivo número 3, acima.

O dispositivo no. 5 é o exercício usado na antiguidade e que chegou aos nossos tempos com o nome de “telefone sem fio”, o qual consiste em formar-se um círculo de pessoas e passar uma frase à primeira, para que ela passe adiante e assim su-cessivamente até que chegue ao último do círculo. As distor-ções são tão grandes e absurdas que nos fazem compreender como surgem os falsos rumores. E, ao mesmo tempo, vaci-nam as pessoas mais inteligentes para que não acreditem no que ouvirem, seja lá de quem vier a notícia, até das pessoas mais críveis.

Constate, você mesmo, o quanto as pessoas distorcem as in-formações dadas. Reúna alguns amigos, quanto mais gente, melhor. Conte uma história pequena, que contenha um nome, uma data e um fato. De preferência, com dados que não este-jam de acordo com as informações que a pessoa tenha a res-peito. Sussurre no ouvido do primeiro e peça que um passe ao outro da mesma forma. Quando chegar ao último, solicite que diga em voz alta o que chegou nele.

Aqui vai uma sugestão de texto: “Napoleão Boaparte, em 1960, invadiu a América com dez mil apaches.”

Você vai se assustar com o que vai ser transmitido pelo últi-mo do grupo. Portanto, se você ouviu dizer algo, através de terceiros, não perca o seu tempo acreditando em bobagens.

Por outro lado, a fofoca é uma energia poderosa que pode ser canalizada para fins construtivos. Aprendemos nas artes mar-ciais do Oriente a não opor resistência direta ao ataque do inimigo, mas sim, aproveitar a força dele para levá-lo ao chão. Com a fofoca é a mesma coisa.

Para ilustrar, vou lhe contar uma história que me foi transmi-tida como fato real. Na Companhia do Quartel General da Primeira Região Militar, no Rio de Janeiro, o capitão teria se dirigido ao tenente e dito:

— Amanhã haverá eclipse do Sol, o que não acontece todos os dias. Mande formar a companhia às sete horas, em uni-forme de instrução. Poderão, assim, todos, observar o fenô-meno e na ocasião darei as explicações. Se chover, nada se poderá ver, e os homens formarão no alojamento, para a cha-mada.

O tenente ao sargento:

— Por ordem do capitão, haverá eclipse do Sol amanhã. O capitão dará as explicações às sete horas, com uniforme de instrução, o que não acontece todos os dias. Se chover não haverá chamada lá fora e o eclipse será no alojamento.

O sargento ao cabo:

— Amanhã, às sete horas, o capitão vai fazer um eclipse do Sol com uniforme de passeio. O capitão dará no alojamento as explicações, se não chover, o que não acontece todos os dias.

O cabo aos soldados:

— Amanhã, às sete horas, o capitão vai fazer um eclipse do Sol com uniforme de passeio e dará as explicações. Vocês de-verão entrar formados no alojamento, o que não acontece to-dos os dias. Caso chova não haverá chamada.

Entre os soldados:

— O cabo disse que amanhã o Sol, em uniforme de passeio, vai fazer eclipse para o capitão, que lhe pedirá explicações. A coisa é capaz de dar uma encrenca dessas que acontecem to-dos os dias. Deus queira que chova.

Anterior
Anterior

O Ego e o DeRose Method

Próximo
Próximo

Free Mindfulness Design Talk